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#10 - setembro - uma novidade perfeita e um punhado de sentimentos estranhos
sobre pinheiros & mitologia grega
nesta edição:
Penélope(s)
Tecer histórias
Novidades de 2025
Eu vou contar uma história sobre uma história.
Posso usar um grande clichê e dizer que existem momentos na nossa vida que alteram toda a nossa jornada. Momentos em que, a partir do instante em que eles começam, nós sentimos que toda a nossa vida foi reestruturada. Isso já aconteceu com todo mundo e, para mim, sempre teve um livro na cena do crime. Um livro que, assim que terminei de ler, eu sabia que tinha me tornado outra pessoa. Consigo contar nos dedos os livros que fizeram isso comigo, mas hoje vou falar de um em especial: A Odisseia de Penélope, da Margaret Atwood (Penelopiad em inglês, que eu acho um título perfeito, mas é a velha história de que toda tradução é um ato de traição).
A Odisséia de Penélope, de Margaret Atwood (2005).
Não é novidade pra ninguém que me conhece que eu tenho um fraco por mitologia grega e que, sempre que posso, relembro a fala de um professor de literatura que eu tive. Ele disse que “quando a gente não sabe o que fazer, volta para os gregos e faz o que eles fizeram”.
Foi o que eu fiz. É o que eu faço.
Em 2018, eu estava no meu segundo semestre da faculdade de Letras. Sou licenciada em Português, mas como minha fome de tudo é maior do que eu, lá fui eu me inscrever em matérias do Inglês. Uma delas foi uma eletiva que eu fiz de intrometida e acabei me metendo em uma pesquisa de literatura inglesa. Eu nem sabia muito bem o que estava fazendo lá, mas acabou dando certo — academicamente e profissionalmente. Mas calma, estou me adiantando um pouco.
Antes de falar disso, eu preciso falar da Margaret Atwood. Acabei lendo O conto da Aia mais ou menos nessa época porque fiz uma pesquisa sobre o livro, mas um dos grupos pegou A Odisseia de Penélope no sorteio dos títulos e eu fiquei curiosa e também o li o livro deles. Nesse livro da Atwood, a gente acaba lendo a Odisseia, só que pelo ponto de vista de Penélope, que tem alguns comentários bem pontuais para fazer sobre o marido e as viagens intermináveis dele.
É um livro curto, mas potente, no qual eu encontrei e fiz a minha própria leitura particular de como o feminino na literatura foi sempre de subserviência, de assistência e co-protagonismo — nunca as principais, sempre as esposas; sempre o interesse romântico, mas nunca a heroína. E foi nessa leitura que eu me apeguei a um mote: e se Penélope não esperasse Odisseu? E se, e se, e se…
Essa ideia ficou na minha cabeça por um bom tempo, e ainda em 2018 eu comecei a rascunhar algumas coisas sobre Penélope, a minha Penélope. O nome Penélope é grego e significa “trama”, “tecelã”. Assim como a Penélope original, a minha Penélope também tinha que decidir o próprio destino a partir de fios e de tecer— mas acabei não escrevendo essa história assim que tive a ideia. Na verdade, só abri o arquivo no qual escreveria a ideia de Penélope em 2020 e só terminei esse primeiro rascunho em 2023.
Antes dessa história, escrevi outra, que dei o nome de Uma noite inesquecível. Nela, o Cupido (ou Eros) solta três cupons mágicos que precisam ser gastos em uma noite, e esses bilhetes encontram dois meninos: Camilo e Darin. Camilo, filho único, e Darin, irmão gêmeo de Minho (estamos quase chegando lá, eu sei, eu sei).
Uma noite inesquecível (2021), com capa de Purin Naka.
Lancei Uma noite inesquecível só em 2021, depois de alguns rascunhos e de finalmente achar fôlego dentro da minha rotina como universitária. Sou suspeita, mas gosto muito dessa novela, mesmo que eu sinta que os leitores finais pareçam não se interessar muito por ela. Não sou muito de anunciar, sou de fazer, então na calada da noite, juntando retalho por retalho, fiando trama por trama, escrevi outra história que apelidei carinhosamente de Pinho (já falei de Pinho em outras edições desta newsletter, quando era apenas um projeto de NaNoWriMo).
Em Pinho, Penélope (com fios 👀) e Minho (com uma espada 👀) também estão lutando contra destinos atrelados aos próprios nomes e se apaixonando pelo caminho enquanto namoram de mentirinha. É uma romantasia com jovens em um colégio interno que fica no interior do Paraná, com um pouco de destino, um pouco de esgrima e um pouco de amigurumi, e pela primeira vez desde 2021, mais alegria do que tristeza em um dos meus livros.
Colocar o ponto final em Pinho foi uma jornada que acabou só em setembro de 2023. Era um livro que estava enroscado nos meus pés e me pedia atenção o tempo todo — uma atenção que eu não sabia como dar porque a minha vida estava uma completa loucura. Eu tinha medo de fracassar com algo que nem havia terminado, e como uma boa sofredora da síndrome de impostor, acreditava de verdade que esse livro seria completamente ignorado.
E meio que aconteceu o contrário.
Pinho vem sendo meu livro mais amado nos bastidores e que, em questões profissionais, eu considero que meu trabalho mais reconhecido, porque eu não só consegui terminar esse livro como também tenho um anúncio sobre ele: Pinho vai ser publicado em 2025 pela editora Alt.
!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Galera.
Eu nem sei como continuar a escrever palavra atrás de palavra depois de digitar essas aí em cima.
Ainda não assimilei direito essa informação e finalmente posso falar isso, sem guardar esse segredo a sete chaves. Sou um pouco obcecada pelos títulos da editora Alt e muito fangirl da Paula, agora minha editora (que é espetacular e extremamente atenciosa). Estar no time de autores da Alt (autorALTS!!!!) e fazer parte da curadoria dela, que sempre achei impecável, é um sonho se realizando, sem exagerar em nenhuma vírgula.
Sempre trabalhei minha carreira com o objetivo de entrar no mercado tradicional, e agora que isso está acontecendo, está sendo um misto de emoções. 2024 está sendo um ano um pouco atípico e esquisito em muitas áreas, mas principalmente na minha carreira como autora. Tive momentos muito legais e momentos muito ruins na mesma medida, e não consegui me expressar bem sobre nenhum desses lados da moeda.
Tenho essa impressão que me persegue e me assombra de que não consegui falar de Enquanto o universo não desmoronar como queria porque acabei passando por alguns momentos canônicos que não podiam ser alterados, apenas aceitos e vividos. Repensei um milhão de coisas sobre o mercado editorial, sobre o que eu sabia, sobre o que eu achava que sabia e sobre o que eu realmente queria. Tento me dar um desconto e me dou uns tapinhas nas costas, dizendo para mim mesma que eu fiz o que eu pude, com os recursos que eu tinha e que, ainda assim, deu bom.
Uma coisa que ninguém fala sobre lançar livros no mercado tradicional é que fazer isso é absolutamente assustador. Existe um caminhão de coisas não ditas, de expectativas, de pessoas te observando. É uma corda-bamba e você em cima dela, em uma monociclo. Não quero que me entendam mal, eu não estou reclamando de estar no lugar que eu estou. Pelo contrário: trabalhei muito para que quando uma oportunidade acenasse para mim eu pudesse segurar na mão dela com força. Mas eu sinto que só agora a ficha finalmente está caindo; de que agora as histórias que criei, que escrevi em cadernos quando era uma apenas uma garota de 15 anos, que tudo que a minha eu adolescente queria… Tudo isso está acontecendo. E é real. E é muito sério.
Sempre tive sonhos de roubar a lua e a escrita sempre foi o meu foguete (ou tapete mágico, como diria a Diana Wynne Jones). Acho que é por isso que essa notícia de que Pinho vem aí pela Alt em 2025 às vezes me parece irreal, mas de um jeito muito legal.
Uma vez, li o conselho de um autor famoso para um autor que estava começando a fazer muito sucesso na época em que isso foi dito. O primeiro autor em questão disse
“This is really great. You should enjoy it.”
Isso é incrível. Você deveria aproveitar. (Tradução livre).
Eu tinha esquecido desse conselho até recentemente, quando voltei da Bienal (que foi onde a notícia do meu novo livro saiu, em uma exclusiva com os parceiros da Alt). Quando finalmente voltei para minha casa, em Curitiba, e tive uma longa conversa com as minhas amigas mais próximas, lembrei desse conselho no meio do meu monólogo. O autor que recebeu o conselho disse que na época não aproveitou e se arrepende disso.
Isso, tudo isso, é realmente incrível. E eu vou aproveitar.
Às vezes eu gostaria de voltar no tempo e agradecer à Adrielli de seis anos atrás por ser curiosa e intrometida e ter se inscrito naquela pesquisa de literatura e ter lido aquele livro que nem era da pesquisa dela e mudado a nossa vida, livro por livro, mas eu sei que ela já sabe disso — afinal, algumas histórias realmente foram escritas para que pudéssemos encontrá-las.
Depois de contar essa novidade e de resgatar momentos do longínquo ano de 2018, termino esta newsletter dizendo que agora espero que Pinho também encontre todos que leram até aqui (em 2025, que está logo ali, virando a esquina!).
Um abraço apertado,
enquanto planto pinheiros,
Adrielli Almeida 🌲
AH, antes de ir! Deixo aqui uma arte de Penélope e Minho no dia menos fofoqueiro dos dois.
AGORA SIM.
Tchau! 🌲