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- #08: agosto - perdi uma chave de três dentes
#08: agosto - perdi uma chave de três dentes
sobre monstruosidade & beleza
nessa edição:
minhas referências para Beleza monstruosa
o que eu gostaria que os leitores soubessem sobre esse processo criativo
Beleza monstruosa LANÇOU! Você pode comprar a novela aqui.
Para ouvir 🎧: PLAYLIST DE BELEZA MONSTRUOSA
CIVY CIVY CIVY

Atrasei o envio dessa news porque queria que ela saísse perto do lançamento de Beleza monstruosa (no fim, a amazon atrasou TUDO…), então peço só 50% de desculpas pela demora, já que foi por um bom motivo.
Meu processo criativo é meio longo, eu geralmente desenvolvo ideias por anos. Elas amadurecem na minha cabeça por muito, muito tempo. Originalmente, eu tinha uma trilogia de novelas que eu chamava carinhosamente de TRÍPLICE C, por conta de todos os personagens começarem com a letra C: Camilo, Clarice e Cadu.
Só que eu era uma autora independente, sem agente, sem saber exatamente o que o futuro me aguardava, então tentei firmar mais os pés no chão. Em 2021, depois de anos pensando nessa novela e na ideia, lancei Uma noite inesquecível. Eu teria feito muitas coisas diferentes, mas não me arrependo dessa história. Ela me trouxe amigos e leitores fiéis e mostrou meu potencial em narrativas curtas. Foi o primeiro texto que a Karol (amiga-agente) trabalhou. Foi incrível. Aprendi coisas e subi mais uns degraus na minha carreira.
Ainda assim, Uma noite inesquecível foi só o começo. Eu tinha planos para a Clarice e para o Cadu, mas a incerteza de tudo me deixava parada no lugar, pensando: e agora? O que eu iria fazer? O que eu podia fazer? Eu tinha — e tenho — um milhão de planos e metas como escritora. Antes de tudo, escrevo para mim. Mas sempre que escrevo sei que, uma hora, aquela história vai deixar de ser minha — no momento em que for publicada, quando for publicada, se for publicada.
Uma noite inesquecível e Beleza monstruosa são… primos. A Clarice que apareceu em UNI agora protagoniza a própria história (e que história!). Eu tenho meus rascunhos e, de lá para cá, muita coisa mudou. A ideia final começou a se formar em 2019. No meio do caminho, eu tropecei em leituras que me mudaram como pessoa, como escritora, como leitora e não nego nunca: vazou para a minha voz autoral, escorreu para dentro dessa história.
E agora vou falar um pouco de cada uma dessas coisas.

Feita de fumaça e osso
Um milhão de anos atrás uma Adrielli adolescente leu esse livro pela primeira vez e doze planetas se alinharam nesse momento. Eu nunca esqueço o quanto esse livro me impactou, o quanto eu gastei as bordas e o quanto eu reli. E quando eu vi a foto de perfil da Laini, o cabelo rosa, não sei — a química do meu cérebro foi alterada ali. Esse livro foi tão importante na minha formação como escritora e leitora que eu obriguei minha irmã mais nova (a maior inimiga da leitura) a ler (e ela ouviu a trilogia em audiobook, então sim: venci)).
Daqui, eu roubei (como uma artista faria) as portas. Demorei mais uns anos para tropeçar na demarcação de “fantasia de portal” — o que Beleza monstruosa com certeza é — e, se eu li alguma fantasia de portal antes de Feita de fumaça e osso, ela foi insignificante porque essa é a única que eu considero como a primeira para mim.

É assim que se perde a guerra do tempo
Fun fact: o título de Beleza monstruosa era outro. Por anos a história se chamou “A beleza monstruosa dessa floresta sou eu”, mas depois de uma breve conversa com Karol eu acabei alterando o título. Gosto desse título antigo — tenho um histórico de títulos longos e estranhos, então eu realmente gosto dele —, mas ele não funcionava para essa história. Admito que no fim eu só fiz um recorte — meio que só dei zoom nas duas palavras que importavam para a história. E funcionou. Então, imagine a minha alegria em ler É assim que se perde a guerra do tempo, com um título longo, com uma história curta e que durou eternidades dentro do meu coração.
Eu me apaixonei por esse livro do jeito que a gente se apaixona uma ou duas vezes durante toda a nossa vida. Eu pensei nessa história, pensei nessas personagens e chorei, e ri, e pensei, e pensei. Se eu escrevesse 1% de algo assim, eu estaria em paz comigo mesma. Tem um capítulo em Beleza monstruosa que eu amo muito e ele só existe por causa desse livro. Botões de limoeiro, o nome. Fica aí o aviso da onde ele veio.
Hehe.

O mar sem estrelas
Roubei um pouco de portas aqui, mas de maneira diferente. O mar sem estrelas foi outra leitura que mudou como eu enxergava histórias, mudou como eu olhava para o meu próprio texto. Não ironicamente tive febre enquanto terminava de ler esse livro — foi uma fase difícil da minha vida, sim, mas achei tão pontual a febre que sempre associo com o final da leitura.
Esse livro começa com uma possibilidade e essa incerteza envolve uma porta. Essa ideia continuou na minha cabeça e minhas próprias ideias vazaram para ela. Eu queria responder essa pergunta, mas de outra maneira. Eu queria algo mais agridoce, algo mais… longo. Uma possibilidade que persistia, não apenas uma chance única. Esse livro abriu morada no meu coração e perguntas na minha cabeça. Erin foi gigantesca com essa história e com esses personagens e, quando eu vi, eu me peguei pensando: oras, essa não é apenas uma ideia… é A ideia.
(Spoiler: foi A ideia).

O último capítulo
(em inglês I am the pretty thing that lives in the house)
Ok, esse aqui destoa um pouco, eu admito. Esse filme é um thriller/suspense e fala sobre uma enfermeira que vai cuidar de uma escritora de livros de terror, já idosa. O problema é que a casa na qual ela mora é cheia de segredos. A questão é que todo o filme se passa na casa. A outra toda é sobre a casa. Todos os plots, acontecimentos, final: toda a história se passa na casa.
Daqui, eu roubei esse recorte. Queria que a história toda se passasse com um único palco central. E mesmo quando a gente escapa um pouco dele, no fim volta para ele — porque é sobre isso. É sobre a floresta, é sobre a porta. Não a toa são flores que abrem os capítulos de Beleza monstruosa (sugiro consultar a linguagem das flores, depois de terminar a leitura).

Seven, da Taylor Swift
Alguma coisa aconteceu dentro da minha cabeça quando eu ouvi essa música pela primeira vez. Demorei um pouco para encontrar uma história dentro dela, mas depois que encontrei foi difícil de ignorar. Eu queria muito contar Beleza monstruosa do jeito que contei: ao longo de anos. O completo oposto de Uma noite inesquecível que acontece durante uma única e fatídica noite, Beleza monstruosa é sobre sofreguidão, desejo, espera.
Beleza monstruosa, no fim, é sobre adiar uma escolha por muito tempo — por mais tempo do que o coração humano permite ou aguenta. Dilui Seven da Taylor dentro da história e gosto de olhar para o meu texto fora de nichos: quem gosta da música/da Taylor entende, quem não gosta não é prejudicado com um balde de referências transbordando.
(E, sério, Seven é tão sáficas code!!).
Sinto que falei muito sobre essa história e, talvez, agora seja o momento de quem leu, está lendo ou vai ler ir aproveitar ela, sem tantas interferências e comentários meus. Eu gosto muito de escrever uma news sobre cada lançamento, conversar sobre o lugar da onde as ideias surgem (até porque a Musa não existe), apontar minhas referências — acredito que é importante a gente entender que a pessoa que escreve não é uma figura mítica, não é inalcançável e existe anos de trabalho, pesquisa e referência mesmo dentro da literatura comercial (tenho outros comentários sobre esse tópico, mas fica para outra news).
Ainda com 25 anos, entrego Beleza monstruosa para o mundo, para quem quiser acolher duas garotas de universos diferentes, mas com corações que cantam um para o outro. É uma história para todas as pessoas que buscam o próprio lar porque se sentem deslocadas no ninho em que nasceram. É para as almas que pensam demais nos “e se” que a vida nos dá. Para os corajosos, que não hesitam diante de portas mágicas.
É para quem acredita que beleza é, não tem explicação. E é.
Deixo o aviso para quem embarcar nessa novela: essa história começa com um monstro, mas ele não estava perdido na floresta.
Com carinho,
e animada para conhecer meus futuros leitores monstrinhos,