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#01 - abril: coração morto está nascendo!
sobre corações que não vivem & planos de dominação mundial
Nessa EDIÇÃO:
como nasceu “Coração Morto”, meu novo livro de fantasia urbana surrealista e toques de realismo mágico;
o que você pode esperar dele;
& outras reflexões sobre escrever histórias.
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Para ouvir 🎧: A PLAYLIST DE CORAÇÃO MORTO
Tenho sonhos mirabolantes de dominação mundial desde os meus 13 anos — então faz sentido que a ideia desse livro tenha nascido em meados de 2015, quando eu era mais jovem e ainda estava construindo uma voz autoral. (Hoje em dia tenho sonhos de dominações mais regionais, então também acho que tudo está sob controle quanto a isso).
Eu ainda estava no ensino médio quando comecei a esboçar a ideia de Celeste. Eu era muita nova para executar a história que eu queria porque sempre tive muita sede de tudo, e sempre tentei abraçar o mundo com as pernas, então, por um tempo relativamente longo, Coração Morto apenas existiu na minha cabeça. Graças a isso, eu ficava dando voltas ali dentro da minha cabeça, pensando e repensando o destino desses personagens, igual um satélite esperando a hora de colidir.
Essa história — como todas as que escrevo — é uma união de um punhado grande de referências e ideias que eu gostaria de ter uma versão para chamar de minha. Eu acho que tudo começou porque eu gostava da ideia de uma família com muitos irmãos homens, mas apenas uma irmã mulher (escrever sobre irmãos é uma grande questão para mim já que minha família é levemente complexa nesse quesito e isso acaba sempre escorrendo para as relações entre irmãos das minhas histórias).

Celeste e Pietro, de Coração Morto. Arte de @cosmikla.
Na época em questão, eu estava processando um luto intenso, muito recente e doloroso, e quanto mais eu pensava sobre essa ideia, mais ela parecia uma ideia sobre alguém que perdeu tantas coisas… sobre alguém que perdeu tudo. Graças a isso, algumas perguntas começaram a se formar na minha cabeça:
O que sobra para essas pessoas? O que acontece quando tudo que essa pessoa conheceu durante sua infância foi dor? E o que acontece quando você dá um porto seguro para essa pessoa, para então destruir e fazer com que ela volte para a estaca zero?
Uma garota rodeada de irmãos, com um segredo e com um coração destruído: Instável. Desolada. Apática. Será que dá para confiar no que alguém nesse estado narra para você?

eu AMO a capa de Coração Morto!!! foi feita pela Maria Abelhas (@mariabelhas) e eu me diverti muito pensando no que eu queria. além disso, a ideia da moldura veio da minha grandíssima amiga clara, que foi LUZ quando sugeriu.
As perguntas persistiram e quando eu vi eu tinha um milhão delas. Queria escrever sem filtros e para um público mais velho. Não queria escrever sobre personagens se descobrindo, sobre personagens crescendo. Queria escrever sobre pessoas que já haviam passado por esses estágios, que tinham visto coisas, vivido todo esse processo, e que agora se encontravam na beira do precipício.
Eu queria escrever sobre coisas espinhosas — sobre luto, trauma geracional, abuso familiar — e não queria que fosse bonito… Eu queria que fosse real.
Cruel, cru, doloroso.
Essa história, como fica provado na narração e na sinopse, é sobre a Celeste. Sobre a filha do meio dos Moretto, única filha mulher de um pai que tratava cada filho como uma ferramenta para qualquer que fosse seu objetivo.
Coração Morto teve mais de uma versão e eu tentei começar essa história no começo dos meus vinte anos, mas foi só no NaNoWriMo de 2020 que eu consegui começar e finalizar com sucesso a primeira versão desse livro. Foi uma montanha-russa de emoções e eu senti que haviam buracos para serem consertados, mas essa história era tão… pesada emocionalmente… que eu resolvi engavetá-la.
E assim ela ficou por dois anos e meio.
Em 2018, lancei na antologia Contos Astrais (que eu mesma organizei) o conto de um dos irmãos que aparecem em Coração Morto e Celeste é, nesse conto, apenas uma personagem secundária. Nessa época eu já sabia que o primeiro livro seria dela e que eu escreveria a história dos Moretto, mais cedo ou mais tarde — para o meu próprio bem mental. Agora, em 2023, entrego a versão final desse projeto.
Eu queria uma história que falasse sobre o pior das famílias, que tivesse um ar de criação mafiosa. Uma história sobre poder e sobre como ele é negado para as filhas mulheres. Uma história com uma protagonista com zero senso de autopreservação — porque a vida que ela levou e a família na qual cresceu sempre fez com que ela tivesse exatamente o contrário disso.
Várias coisas me influenciaram ao longo da primeira ideia, em 2015, até o a edição desse livro, que aconteceu em 2023, mas eu queria falar de três mídias que acertaram o tom, ritmo e sensação que eu queria passar com Coração Morto:

minhas três maiores inspirações para CORAÇÃO MORTO
A morte de sarai, de J. A. Redmerski. Li esse livro um milhão de anos atrás e lembro até hoje da sensação de estar lendo um livro que eu não deveria. Basicamente, é sobre uma menina que está presa em uma vida de máfia, tráfico e violência, tudo por causa da mãe, que já faleceu. Quando um assassino destrói a rotina dela, a garota não pensa duas vezes em escapar junto com ele. É aquela velha história do: entre o dono do Inferno e o porteiro dele…
Gostei MUITO da história na época, não sei o que acharia dela hoje em dia. De qualquer maneira, ela me ajudou a encontrar o tipo de história que eu gostaria de contar com Coração Morto e sou grata por isso.
Love of Kill (ou Koroshi Ai, em japonês), de Fe. Esse mangá caiu na minha mão exatamente na época em que eu estava escrevendo CM, no NaNoWriMo de 2020. Fala sobre uma assassina de aluguel que acaba cruzando com outro assassino de aluguel que, por razões que ela não entende, parece querer muito ter um encontro com ela (risos). Eu achei que essa história ia ser meio flertes com o impossível, aquela suspensão de realidade que a gente se coloca para poder comprar esse tipo de história, mas o mangá teve plot twists MUITO bons, sacadas muito legais. Ele fala sobre família, lealdade e segredos. Além de ser meio violento quando deve e engraçadinho quando dá. Teve uma adaptação para anime em 2022!
Tudo bem não ser normal (K-Drama), roteiro de Cho Yong. Esse drama também caiu na minha vida na época em que eu estava escrevendo Coração. Fala sobre muitas coisas, mas meu recorte pessoal foi sobre os segredos em família e o quanto um irmão é capaz de se sacrificar pelo outro, além das questões de saúde mental, relacionamentos familiares abusivos, etc. É um drama bem sensível, bem escrito e com um elenco maravilhoso, que entregaram atuações dolorosas, reais. Eu gosto muito da protagonista, Ko Moonyoung, que é completamente descompensada da cabeça e, de primeira, não é possível simpatizar por ela — e essa é a graça da história. Você entender como ela se tornar essa pessoa. O drama é original da Netflix e está disponível lá.
Muito basicamente, Coração Morto é sobre essas coisas e flerta com todas essas delimitações que eu fiz dentro dessas mídias que eu consumi e que me guiaram durante todo o processo de escrita. Claro que teve outras coisas, como o fato de que eu ouvia MUITO Halsey e essa aura dos álbuns dela me ajudou demais. Fiz o melhor que pude para reunir essas referências, passar a cola da voz-autoral, e tornar isso algo novo: um livro meu, com as minhas cores.
Esse é o primeiro livro no qual assino com meu pseudônimo, Elli C. Almeida, já que é meu primeiro livro adulto. Quis fazer essa divisão do meu trabalho jovem adulto e do meu trabalho adulto, mas espero que, mesmo com um novo nome, esse seja o tipo de livro que as pessoas leiam e pensem “realmente, foi a Adrielli que escreveu isto aqui”.
Com 25 anos entrego Coração Morto para quem tiver interesse em ler essa história. É para os corações que nunca se recuperaram do luto, para todos que lutam batalhas silenciosas dentro de suas próprias mentes, para todo mundo que não consegue seguir em frente porque sabe que o próximo passo é para dentro da boca do monstro que mora dentro de si mesmo.
É para os corações que ainda batem, mas não vivem.
Por isso deixo o aviso: essa história começa com sangue.
Uma boa leitura quem se aventurar com Celeste Moretto & cia.
Com carinho,